terça-feira, 28 de agosto de 2012

Metodologias para o aprendizado de línguas: a gente gosta de fazer de conta? - Parte 3

Esta é a terceira e última parte do post "Metodologias para o aprendizado de línguas". Você pode ler a primeira parte aqui e a segunda aqui.

Com base nisso tudo, fica relativamente fácil entender porque muita gente faz três, cinco, sete anos de um curso de línguas qualquer e, quando vai pra fora do país, mal consegue pedir um suco de laranja. Metodologia destinada a quem quer fazer de conta que aprende, aliada a alunos que só querem fazer de conta que aprendem, ou que só querem poder "se virar um pouquinho no idioma", infalivelmente vai produzir pessoas que não têm segurança na nova língua e que vão cometer mais erros e demorar mais para se dar conta deles. É errando que se aprende muita coisa, claro, mas por que cometer erros que você pode evitar facilmente? 

Enfim, para finalizar, seguem algumas dicas que retirei da minha própria experiência e da leitura de várias fontes. Não quero dizer que sou "o" cara e que tenho a fórmula mágica. Isso é o que funciona pra mim, não quer dizer que essas práticas são definitivas de forma alguma e atendem a todas as pessoas (como mencionei lá na parte 1, esse post é bem pessoal), mas quem sabe, se você está ou esteve na mesma situação que eu, se sentindo um pouco perdido (a) na hora de estudar, essas dicas não podem te ajudar?

1. Encare a gramática de frente : se você leu os outros posts, e principalmente se andou fazendo cursos de idiomas nos últimos tempos, deve ter notado que boa parte das metodologias adotadas querem fazer de conta que gramática não é algo com que você precise lidar; que é algo que você vai aprender "naturalmente". Bom, eu digo que a gramática está lá para facilitar, por mais que as pessoas digam o contrário. O negócio é encará-la de frente. Você vai precisar de menos esforço se sentar e estudar como é formado o passé composé do francês do que se ficar tentando adivinhar as terminações a cada novo verbo.  "Ah, mas é chato". Bom, você pode até achar isso, mas é preciso lidar com o bicho se você não quiser soar como um roceiro analfabeto. "Ah, mas é difícil". Na verdade, em geral, não é. Em geral, as pessoas tendem a achar difícil o que, na verdade, acham chato e não querem ter de aprender. Mas acredite, saber a gramática e o porque das coisas serem ditas e escritas da forma como são facilita e muito a compreensão e a utilização do idiomas. Sem falar que te dá uma segurança absurda na hora em que você tem de começar a criar suas próprias frases e participar de conversas reais. E - surpresa - com o tempo fica tudo tão natural na sua cabeça que é capaz de, daqui a algum tempo, você nem lembrar direito a regra gramatical direito;

2. Faça exercícios. Enxágue e repita a operação : não dá pra descartar a importância de se fazer uma grande quantidade de exercícios sobre qualquer que seja o tema ou o ponto gramatical que você está estudando. Aliás, como mencionei a segurança ali em cima, é bom repeti-la aqui: fazer exercícios, ver erros e acertos, vai deixar você mais seguro. Não se limite, de forma alguma, aos exercícios que seu professor te passa ou aos que constam do livro que você utiliza. Vá para a internet, procure páginas que possuam exercícios (existem várias), faça testes online, até os de nivelamento de escolas de línguas. Procure ver onde você tem problemas e estabeleça um retorno constante a esses assuntos, fazendo mais exercícios. Se tiver grana, invista em livros que trazem simulados e provas da língua que você está aprendendo, ou em gramáticas e didáticos com exercícios (mas foque nos livros que trazem respostas). Faça e refaça exercícios mesmo daqueles assuntos que você já domina;

3. Entenda seus erros : se a sua prova ou lição de casa ou os exercícios que você fez por conta própria têm vários (ou mesmo só alguns) "x", indicando que você errou, vá de caso em caso e procure não só ver o que você errou, mas entender a razão de você ter errado. Foi uma simples falta de atenção (embora isso não deva ser tão minimizado quanto parece) ou você ainda não domina exatamente aquele ponto em particular? O erro foi causado por você ter compreendido errado o sentido da frase (em alemão, nos primeiros estágios, é comum você trocar o caso dativo com o acusativo e inverter o significado da frase) ou por um aspecto gramatical que não foi corretamente assimilado? Esse tipo de indagação serve para você realmente atentar para as razões por trás dos erros. Não se deve apenas "aceitar os erros", é preciso aprender com eles; 

4. Utilize todos os recursos disponíveis - e vá além : quando eu comecei a aprender inglês, eu basicamente tinha à minha disposição a escola de inglês e uma ida mensal ao cinema - e olhe lá. Hoje em dia, não há desculpa. Mesmo se você estiver aprendendo tailandês ou finlandês, você pode entrar na internet (até por meio do celular, para os mais modernosos) e acessar páginas e mais páginas de conteúdo na língua que você está aprendendo. Tem de tudo, de receitas culinárias a teses de mestrado, passando pelos já conhecidos e bem aceitos artigos, filmes e músicas. Mas não se limite a apenas a acessar esse conteúdo - estude-o! Assista aos filmes, mas faça anotações de palavras ou expressões que você não entendeu ou achou interessantes. Escute músicas, mas veja como o cantor pronuncia certas palavras de forma diferente do seu professor ou daquele amigo nativo que você tem (e, se tiver tempo, tente saber a razão disso. É um sotaque diferente? Um dos dois pronuncia errado? Liberdade artística?). Leia artigos, revistas, livros e tente fazer resumos do que você leu, tudo na língua-alvo. Depois, peça para um professor ou amigo nativo revisar, ou poste nos fóruns linguísticos que existem na internet e peça correções. Não seja tão passivo no aprendizado. E saiba selecionar o que se adequa ao seu nível atual (mas sempre mire alto);

5. Procure falantes nativos : assim como no item anterior, a "oferta" de falantes nativos de outro idioma era bem escassa quando comecei a aprender inglês. Hoje você pode ter contato com um russo, uma sueca, um vietnamita e uma australiana tão facilmente como você pode conhecer o brasileiro que mora na casa vizinha. Deixe a vergonha de lado! Se você procurar sites de pen pals, boa parte das pessoas que estão lá estarão dispostas a entender que: (1) você é estrangeiro; (2) você não fala a língua deles de forma nativa; (3) você provavelmente cometerá erros. Mais difícil, mas não impossível, é encontrar pessoas dispostas a corrigir seus erros e até te ajudar dando aulas ou dicas grátis. Você só  precisa ser paciente e tolerante consigo mesmo e tirar um tempinho para responder mensagens algumas vezes por semana. E, com sorte, você pode até ter algumas conversas via Skype ou outro programa de voz, o que vai ser um baita treino para os seus ouvidos e língua;

É isso. O post começou como um desabafo de alguém frustrado com o ensino de línguas estrangeiras e acabou indo um pouco além. Mas enfim, espero que, de alguma forma, essas dicas e o que narrei antes possam ser úteis para pelo menos algumas pessoas. Independente de metodologia, o importante é você ter bem claro o seu objetivo e não usar desculpas para fugir dele. Se você quer, de fato, aprender um novo idioma, vai precisar de tempo, esforço e dedicação. A ajuda externa é excelente, qualquer que seja ela, mas o principal ator no palco tem de ser você. Se você for um estudante passivo o tempo todo e continuar com a mentalidade de que é o curso que tem de te ensinar, não se surpreenda se, ao final, mesmo com um diploma do tal curso, você mal conseguir fazer o seu check-in no hotel.

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