terça-feira, 21 de agosto de 2012

Metodologias para o aprendizado de línguas: a gente gosta de fazer de conta? - Parte 2

Essa é a parte 2. Leia a parte 1 aqui.

E então, qual era o problema? Na minha opinião, era (e continua sendo) o seguinte

As metodologias adotadas não são feitas para quem quer aprender e, sim, para quem quer fazer de conta que está aprendendo. O conteúdo do curso praticamente não avançava ao longo do semestre, ou avança de forma imperceptível, de tal forma que você não se dá conta do que está aprendendo - ou do que deveria estar aprendendo. Não se encara o problema de frente. É como se fosse necessário dourar a pílula para que os alunos achem tudo mais palatável. No meu caso, em vez de termos aulas estruturadas de forma que um tópico levasse a outro, com regras gramaticais e vocabulário sendo construídos de forma encadeada, tínhamos um bocado de palavras soltas, muitas delas aparecendo em apenas uma unidade ou mesmo uma página do livro (sabem a famosa unidade sobre alimentos ou frutas, algumas das quais você não conhece nem em português?),  e várias regras gramaticais soltas ao sabor do vento, quase sem conexão alguma, sem qualquer tipo de aprofundamento. E pior, os exercícios de fixação, para casa e afins, eram pouquíssimos, quase inexistentes. Para piorar, poucas vezes eram cobrados pelo professor. O esquema era basicamente assim: o conteúdo foi dado, faça os exercícios em casa e, se tiver dúvidas, me procure.

Dessa forma, me dei conta de que a metodologia de ensino de idiomas mudou e MUITO desde que eu tinha nove anos de idade. De repente, alguém achou que as pessoas deveriam aprender idiomas meio que por osmose, já que "bebês aprendem a língua materna basicamente ouvindo e repetindo até que as informações façam sentido". Só que esse pessoal parece esquecer que, depois daquela primeira língua aprendida, as outras, adquiridas no fim da infância, na adolescência e na vida adulta, são aprendidas de forma bem diferente de quando você aprende sua primeira língua, lá no berço, sem pressão ou obrigação. O próprio funcionamento do cérebro na aquisição da primeira e das demais línguas é diferente. Some-se a isso fatores culturais e sociais e, pelo menos pra mim, fica meio óbvio que "aprender como se fosse um bebê" soa, no mínimo, ingênuo.



Além disso, o "bebê" é colocado em uma turma com outros "bebês". Como mencionei lá no outro post,  cada um tem seu próprio ritmo de aprendizado, e uma turma de escola de línguas terá, invariavelmente, pessoas que "pegam" as coisas mais rápido e pessoas que demandam mais tempo. No caso do meu curso de alemão, por exemplo, cada aula tinha aproximadamente 1h45min de duração. Em determinado semestre, a professora fazia questão de perguntar a um por um o que haviam feito no fim de semana, a fim de estimular a expressão oral. Estímulo válido, na minha opinião, só que ficava por isso mesmo. Algumas pessoas levavam pouco mais de 30 segundos para contar que haviam ido ao cinema, enquanto outras levavam 3 minutos para dizer a mesma coisa. Numa turma de 15 pessoas, em que quase sempre a quantidade de pessoas que não se dão muito bem com determinado idioma é maior, isso faz com que a parte inicial da aula, de contar o que você fez no fim de semana, tome 30 a 40 minutos da aula. Houve várias situações em que o aluno ficava constrangido por um lado, por não saber se expressar, e o professor por outro, porque certos alunos claramente não deveriam estar no nível/na turma em que estavam. Mas, por uma questão de raciocínio lógico de mercado, o aluno de línguas é sempre aprovado, não importa quão ruim ele seja, porque se for reprovado ele vai sair da escola.

A parte do aluno na lambança toda também não é pequena. No Brasil, reina a ideia de que você vai para o curso de línguas para aprender, e que o curso vai te ensinar. Toda vez que eu vejo pessoas que estão aprendendo a língua X, Y ou Z por razões "profissionais" ou mesmo por gostarem, e dizem que não têm tempo para estudar fora da sala, eu me pergunto se elas fazem ideia do tanto de tempo e de dinheiro que estão desperdiçando. Praticamente ninguém, nos dias de hoje, tem várias horas livres no dia para se dedicar à alimentação saudável, exercícios físicos, meditação e todas as outras coisas que especialistas adorariam que incorporássemos na nossa rotina, e MAIS o estudo de uma língua estrangeira fora da sala de aula. Só que, infelizmente, uma língua não se aprende de verdade indo apenas à aula, uma, duas ou três vezes por semana. Na verdade, eu acredito que quanto mais aversão você tiver ao aprendizado de um idioma, mais tempo teria de dedicar, mas, enfim, as coisas não são bem assim. De qualquer forma, ir ao curso e fazer dois ou três exerciciozinhos do seu livro de atividade (quando muito) não é suficiente.



 Em seguida, temos o professor, que, em geral devido à metodologia adotada e à forma como os cursos estão estruturados, precisa dar X unidades do livro no semestre. Por isso mesmo, por ter uma meta específica a cumprir,  não pode parar, revisar e ficar corrigindo coisas que o aluno já deveria saber, ao menos em tese. Então o professor deixa passar erros, tanto leves como grosseiros, como se fosse algo normal, e segue adiante, porque a matéria precisa ser dada. Não discordo de que o conteúdo tem que avançar, mas deixar passar erros, principalmente os que mostram que os alunos não dominam conteúdo visto dois, três, às vezes  até mais semestres atrás, não deveria ser algo a acender a luz vermelha de alerta?  E mais: se a escola realmente está interessada na qualidade com que seus alunos concluem seus cursos, não deveria estar preocupada com isso? Bom, acho que deveria, mas o lance todo é que a maior parte das escolas de ensino de idiomas vive mesmo é da galera do básico e intermediário - e olhe lá. Li uma vez que a média de permanência em cursos de idiomas, de forma ininterrupta, é de três semestres - TRÊS SEMESTRES! Ou seja, boa parte dos alunos só fica na escola aprendendo o novo idioma por um ano e meio e, em seguida, deixa o curso, seja por desinteresse, por incompatibilidade de horário, por motivos profissionais ou o que for, ainda que volte um semestre ou dois - ou três - depois. E, em boa parte das escolas, o aluno entrará no nível em que parou, independente do quanto estudou sozinho enquanto esteve afastado. Testes de nivelamento? Quando existem, são ótimos para fazer você se sentir bem por pular alguns níveis básicos, mas dificilmente são precisos o suficiente para avaliar o que você realmente sabe.

Ou seja, no final das contas, o aluno não estuda o que tinha de estudar (por preguiça ou por achar que é o curso que tem de fazê-lo aprender, afinal "já está pagando caro"); o professor não corrige o que deveria corrigir (principalmente pronúncia e formação de frases na hora da expressão oral), além de revisar pouco e cobrar menos do que deveria (outra característica da metodologia atual); os métodos e livros utilizados subestimam a necessidade de rever, fazer exercícios, escrever redações e promover debates orais em sala de aula e fora dela; e a escola se preocupa em passar o aluno, não importa quantas provas de recuperação ele precise fazer. Aluno reprovado é aluno desestimulado e, muito provavelmente, aluno que não volta pro semestre seguinte.

Clique aqui para ir para a terceira e última parte.

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